Ciência e Tecnologia • 14:21h • 15 de setembro de 2025
Vírus Iguape: descoberta paulista pode repetir trajetória de Zika e Rocio
Artigo internacional liderado por brasileira aponta lacunas no conhecimento sobre o vírus detectado em animais no Brasil e reforça a necessidade de vigilância
Jornalista: Luis Potenza MTb 37.357 | Com informações da Assessoria | Foto: Arquivo/Âncora1
Um estudo publicado na revista Viruses traz de volta à pauta um agente pouco explorado pela ciência: o vírus Iguape (IGUV). Descoberto em 1979 no Vale do Ribeira, em São Paulo, o IGUV pertence ao grupo dos orthoflavivirus, mas ainda carece de caracterização completa em humanos. A revisão foi conduzida pela biomédica brasileira Marielena Vogel Saivish (University of Texas Medical Branch – UTMB / FAMERP), em parceria com Maurício Nogueira (FAMERP), Shannan Rossi (UTMB) e Nikos Vasilakis (UTMB).
Achados principais
- O IGUV foi inicialmente isolado em camundongos sentinelas, que apresentaram tremores, paralisia e encefalite fatal;
- Soropositividade foi detectada em aves migratórias, morcegos, roedores, marsupiais e cavalos, indicando um ciclo silvestre complexo;
- Sua presença em mosquitos do gênero Anopheles amplia as discussões sobre potenciais vetores;
- Anticorpos foram identificados em equinos de São Paulo, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul, sugerindo exposição contínua.
Embora não haja casos humanos confirmados, a semelhança clínica com outras arboviroses, como dengue e febre amarela, levanta a possibilidade de subnotificação ou diagnósticos equivocados.
Desafios científicos
Segundo Saivish, o IGUV permanece “um vírus enigmático” por falta de ferramentas específicas. Atualmente, não há testes diagnósticos comerciais, o genoma viral é pouco explorado e faltam modelos animais padronizados para avaliação patogênica. Também não existem vacinas ou antivirais em desenvolvimento.
Risco de emergência
O histórico de outros orthoflavivírus negligenciados, como o Rocio, que causou a maior epidemia de encefalite do Brasil nos anos 1970, e o Zika, inicialmente considerado de baixo risco, reforça a necessidade de vigilância. Fatores como mudanças climáticas, expansão de mosquitos vetores e pressão sobre áreas silvestres criam um ambiente favorável para o surgimento de novos surtos.
Próximos passos da pesquisa
A equipe atua em três frentes:
- Mapeamento de hospedeiros e vetores para esclarecer o ciclo de transmissão.
- Sequenciamento genômico para identificar mutações e potenciais riscos.
- Desenvolvimento de diagnósticos moleculares e sorológicos que diferenciem o IGUV de outras arboviroses.
Com apoio da FAPESP, CNPq e NIH/EUA (CREID), o trabalho é um chamado à ação para ampliar a vigilância e os investimentos em pesquisa. “Defender a vigilância do IGUV não é alarmismo, é prevenção baseada em ciência”, afirma Marielena.
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