Ciência e Tecnologia • 17:13h • 25 de agosto de 2025
Plantas no Mediterrâneo florescem até 18 dias mais cedo por causa das mudanças climáticas
Estudo com participação da Unesp mostra impactos no ecossistema e alerta para riscos na polinização e na produção de alimentos
Jornalista: Luis Potenza MTb 37.357 | Com informações da Unesp | Foto: Divulgação
As alterações no clima já estão mudando o calendário da natureza no Mediterrâneo. Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Sevilha, na Espanha, em parceria com a Unesp, constatou que espécies vegetais no sul da Espanha estão florescendo em média 18 dias antes do que há três décadas. A pesquisa, publicada na revista Functional Ecology, comparou dados de 269 plantas da Andaluzia coletados em 1985 e repetidos em 2020, revelando um claro efeito do aquecimento global na dinâmica das florestas e áreas naturais.
Entre as descobertas, os cientistas observaram que cerca de 90 por cento das espécies adiantaram sua floração e 66,4% prolongaram esse período. Na prática, isso significa que plantas que antes floresciam em abril agora começam o processo já em março. Nesse intervalo, a temperatura média da região subiu de 15,9 graus para 18,3 graus e a quantidade de chuvas caiu drasticamente, de 580 milímetros por ano para apenas 205 milímetros.
Impactos para o equilíbrio ecológico
De acordo com a bióloga Patricia Morellato, professora da Unesp em Rio Claro e diretora do Centro de Pesquisa em Biodiversidade e Mudanças Climáticas (CBioClima), o fenômeno pode trazer prejuízos sérios para a biodiversidade. Ela explica que essas mudanças na época de floração não necessariamente são acompanhadas por mudanças nas épocas em que há a presença de polinizadores, o que pode causar desencontros temporais que prejudicam a polinização das plantas e a sua produção de frutos.
Esse desencontro afeta não apenas o equilíbrio natural, mas também a produção agrícola, já que abelhas, aves e outros polinizadores precisam percorrer distâncias cada vez maiores em áreas fragmentadas por monoculturas, como já acontece em regiões do Brasil, especialmente no Centro-Oeste.
Como foi feita a análise
Nos anos 1980, os pesquisadores registraram para cada espécie quatro etapas: primeira floração, início da floração intensa, fim da floração intensa e última floração. Três décadas depois, os mesmos dados foram coletados e comparados por meio de análises estatísticas. O resultado mostrou antecipação em todos os estágios. A primeira floração, por exemplo, que antes ocorria em 17 de abril, passou a ocorrer em 30 de março.
Além do avanço, os cientistas identificaram que espécies com folhas largas, flores grandes, caules lenhosos e naturalmente precoces foram as que mais adiantaram o ciclo. Segundo os autores, essas plantas parecem usar a temperatura ambiente como gatilho reprodutivo, o que as torna mais vulneráveis às mudanças climáticas, ao contrário de espécies que se baseiam em variáveis fixas como a duração do dia.
O que vem pela frente
Para os pesquisadores, o desafio é entender como essas mudanças vão impactar não apenas a flora, mas toda a cadeia ecológica ligada a ela. O risco de polinização insuficiente ameaça tanto a regeneração natural de florestas quanto a produção agrícola. O estudo reforça a urgência de políticas que conciliem conservação ambiental e adaptação às mudanças climáticas, especialmente em regiões com biodiversidade rica como o Brasil.
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