Ciência e Tecnologia • 14:02h • 05 de outubro de 2025
Pesquisas históricas reacendem debates sobre Luiza Mahin e Dandara
Novos registros confirmam a existência de Mahin, mas a trajetória de Dandara segue envolta em controvérsias documentais e simbólicas
Jornalista: Luis Potenza MTb 37.357 | Com informações da Unesp | Foto: Divulgação
Duas das figuras mais emblemáticas da resistência negra no Brasil, Luiza Mahin e Dandara dos Palmares, voltaram ao centro do debate historiográfico. Ambas foram reconhecidas em 2019 como as primeiras mulheres negras a terem seus nomes inscritos no Livro de Heróis da Pátria, em Brasília. Contudo, pesquisas recentes têm oferecido novas interpretações sobre suas trajetórias, revelando contrastes entre comprovação documental e construção simbólica.
No caso de Luiza Mahin, mãe do abolicionista Luiz Gama, descobertas inéditas localizadas pelas pesquisadoras Lisa Earl Castillo e Wlamyra Albuquerque trouxeram registros primários que comprovam sua existência. Entre eles, o testamento de Maria Rosa de Jesus, tia-avó de Luiz Gama, que descreve Mahin como “cativa nagô”. O documento afasta a visão de que teria sido “africana livre”, narrativa construída mais tarde para reforçar o prestígio político de seu filho. Essa revisão historiográfica reforça a importância da presença feminina negra nas lutas sociais do século XIX.
Já a trajetória de Dandara dos Palmares permanece no campo das incertezas. Embora celebrada como guerreira do Quilombo dos Palmares e companheira de Zumbi, sua história carece de registros oficiais. Pesquisas, como as da doutoranda Alcione Aparecida da Silva (UEM), apontam que a ausência de documentação não invalida sua existência, mas evidencia o apagamento sistemático de mulheres negras na história oficial. Para a pesquisadora, Dandara se consolidou como símbolo de resistência e empoderamento coletivo, mesmo sem comprovação documental direta.
O debate entre fato e memória revela um processo mais amplo: a disputa pela narrativa histórica e pelo reconhecimento das mulheres negras como protagonistas. Enquanto Mahin ganha bases documentais mais sólidas, Dandara permanece como força simbólica, marcada pela resistência ao silenciamento histórico. Em ambos os casos, a permanência de seus nomes no Livro de Heróis da Pátria simboliza não apenas a luta contra a escravidão, mas também contra o racismo e o machismo que moldaram a escrita da história brasileira.
Aviso legal
Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução, integral ou parcial, do conteúdo textual e das imagens deste site. Para mais informações sobre licenciamento de conteúdo, entre em contato conosco.
Últimas Notícias
As mais lidas
Mundo
Todos os paulistanos são paulistas, mas nem todos os paulistas são paulistanos; entenda
Termos que definem identidade e pertencimento no Estado de São Paulo
Ciência e Tecnologia
Nova anomalia no 3I/ATLAS levanta hipótese inédita de mecanismo artificial no espaço