Saúde • 09:16h • 23 de setembro de 2025
Microplásticos avançam do mar aos ossos e levantam alerta para saúde humana
Pesquisas apontam que partículas de plástico, já encontradas no sangue, no cérebro e até na placenta, também podem comprometer a saúde óssea, favorecendo inflamações, deformidades e risco de fraturas
Jornalista: Carolina Javera MTb 37.921 com informações de Agência SP | Foto: Arquivo Âncora1
A produção global de plástico ultrapassa 400 milhões de toneladas por ano, com impactos que vão muito além da poluição visível em praias, rios e oceanos. Estima-se que a fabricação do material seja responsável por 1,8 bilhão de toneladas de gases de efeito estufa anualmente, contribuindo para as mudanças climáticas. Mas os danos não param por aí: evidências científicas mostram que a exposição cotidiana ao plástico pode afetar diretamente a saúde humana.
Partículas microscópicas liberadas de roupas, cortinas, móveis e embalagens ficam suspensas no ar, dissolvem-se na água potável ou aderem a alimentos. Dessa forma, podem ser inaladas, ingeridas ou absorvidas pela pele. Estudos já identificaram microplásticos em órgãos e fluidos humanos, incluindo sangue, cérebro, placenta, leite materno e, mais recentemente, nos ossos.
Uma revisão publicada na revista Osteoporosis International, vinculada a um projeto apoiado pela Fapesp, analisou 62 artigos científicos e revelou que os microplásticos podem prejudicar a saúde óssea. Segundo Rodrigo Bueno de Oliveira, coordenador do Laboratório para o Estudo Mineral e Ósseo em Nefrologia (Lemon) da Unicamp, essas partículas comprometem funções das células-tronco da medula óssea, estimulam a formação de osteoclastos — células que degradam o tecido ósseo — e aceleram processos de inflamação e envelhecimento celular.
Pesquisas em animais apontam que a exposição pode levar a alterações na microestrutura óssea, displasias, enfraquecimento dos ossos e até fraturas patológicas. “Em alguns casos, os efeitos adversos culminaram na interrupção do crescimento esquelético”, destaca Oliveira.
Agora, sua equipe inicia um novo projeto que pretende avaliar, em modelos animais, a relação entre microplásticos e doenças ósseas metabólicas. A expectativa é analisar como essas partículas afetam a resistência do fêmur e se podem agravar problemas como a osteoporose.
De acordo com a International Osteoporosis Foundation (IOF), a prevalência de fraturas por osteoporose deve crescer 32% até 2050, impulsionada pelo envelhecimento da população. Para os pesquisadores, entender o papel dos microplásticos nesse processo pode abrir caminho para novas estratégias de prevenção.
“Já sabemos que exercícios físicos, alimentação adequada e tratamentos farmacológicos ajudam a reduzir riscos. Mas ainda existe uma lacuna sobre a influência dos microplásticos no metabolismo ósseo. Se comprovada, estaríamos diante de uma causa ambiental controlável para reduzir a ocorrência de fraturas”, afirma Oliveira.
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