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Responsabilidade Social • 14:10h • 02 de junho de 2025

Mês do Orgulho LGBTQIA+ exalta resistência de envelhecer

Envelhecimento dessa população é tema da Parada LGBTQIA+ de SP

Agência Brasil | Foto: Tânia Rêgo

Entre as letras da sigla LGBTQAI+, a T é a que vivencia de forma mais dramática os desafios de envelhecer
Entre as letras da sigla LGBTQAI+, a T é a que vivencia de forma mais dramática os desafios de envelhecer

"Que moraram comigo, viveram comigo, e eu tive que dar rumo, são quatro. Com o Diego [filho de consideração], cinco. Agora, tem gente aí que você vai perguntar e vai te falar: 'sou filho da Yone na militância, tanto meninos como meninas, cis e trans."

Aos 69 anos, Yone Lindgren não tem apenas filhos, mas netos e bisneto. Ativista histórica e colaboradora de políticas públicas como o pioneiro programa Brasil Sem Homofobia, lançado em 2004, a fotógrafa assumiu ser lésbica aos 15 anos, em 1971, causando aquele silêncio em um almoço familiar de domingo. Sua madrinha, Ascendina, se apressou e saiu em sua defesa, calando qualquer um que pudesse discriminá-la. Yone guarda o rosto dela entre as mais de 50 tatuagens que traz no corpo, que incluem também referências aos filhos de criação e à militância.

Desde que se afirmou lésbica pela primeira vez, enfrentou a repressão da ditadura militar, encerrada em 1985; a patologização da homossexualidade, derrubada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 1990; o estigma e o luto da fase mais aguda da epidemia de HIV/aids, entre os anos 1980 e 1990; e a construção dos direitos LGBTQIA+ nas últimas décadas.

“Eu tenho um amigo que define isso muito bem. Ele diz: 'nós somos os fuscas do movimento LGBTQIA+. Quanto mais velhos, mais bonitos'”, brinca Yone.


Yone Lindgren, 69 anos, ativista lésbica e fotógrafa - Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Biografias como a dela, de pessoas que sobreviveram às épocas mais críticas de violência e invisibilidade e, mesmo assim, abriram caminho para as liberdades sexuais e de gênero, ganharam destaque no Mês do Orgulho LGBQTIA+ em 2025, quando uma série de iniciativas pôs o envelhecimento no centro do debate. A Parada do Orgulho LGBT+ de São Paulo, por exemplo, escolheu este tema para mobilizar a multidão que a consagrou como a maior passeata pelos direitos civis da comunidade em todo o planeta.

“Se a gente não trabalhar muito bem o envelhecimento das pessoas, a gente vai acabar dentro das gavetinhas de novo, todo mundo separado e conseguindo muito pouco”, alerta Yone. “Acho que demoraram para acordar para isso. O movimento negro, o movimento de religiões de matrizes afro tem isso já no sangue. Né? Porque vêm de ancestralidade. O movimento indígena também. Enquanto isso, vamos combinar? Gays, travestis e trans tinham um grande problema com a idade.”

A ativista rejeita qualquer pressão para se enquadrar nos estereótipos de como deve se comportar uma mulher idosa, mas lamenta que muitos dos companheiros se recolhem no armário por depender dos cuidados de famílias que não os aceitam ou vivenciam a solidão.

“Conheci uma pessoa trans que morreu sozinha no seu apartamento e só acharam uma semana depois. Isso pra mim é muito cruel. Ela era uma pessoa que fazia shows, que era conhecida, mas a família não aceitava. Aí, ela foi envelhecendo, e aí como fica? Isso mexeu muito comigo também. Eu, de vez em quando, pego o WhastApp e mando mensagem para todas as pessoas mais velhas que eu conheço. Por que você sumiu? Cadê você? E, nessa hora, eu não quero saber quem você é, eu quero saber como você está.”

Memória e futuro

O ato que vai à Avenida Paulista em 22 de junho celebrará histórias como a de Yone, e o presidente da Associação da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo, Nelson Matias Pereira, defende que lutar pelo envelhecimento com dignidade é lutar para que nenhuma pessoa seja deixada para trás.

“Envelhecer é uma conquista, mas, para muitas pessoas LGBT+, ainda é um desafio marcado pelo abandono, pelo silenciamento e pela ausência de políticas públicas. Em 2025, a Parada do Orgulho LGBT+ de São Paulo levanta a voz por quem resistiu, construiu e segue sendo exemplo de coragem”, destaca Pereira.

Como parte dessa agenda de celebrar o envelhecimento, o Museu da Diversidade Sexual abriu na última sexta-feira (30) a exposição fotográfica O Mais Profundo É a Pele, que faz parte da programação de eventos da Parada SP e exalta os corpos de 25 pessoas que contemplam todas as letras da sigla LGBT, como lésbicas, gays e transexuais, além de diferentes corpos e tons de pele. Entre eles, o de Yone Lindgren.

Rafael Medina, fotógrafo que assina a exposição, contou na abertura da mostra que, nos seus 20 anos, não tinha acesso a muitas referências do que era um homem gay mais velho, dos seus 50, 60, 70 anos.


Exposição O Mais Profundo É a Pele, no Museu da Diversidade Sexual, em São Paulo - Foto: Cadu Pinotti/Agência Brasil

“Comecei a pesquisar essa questão e entendi que os motivos eram a crise de HIV/aids e o contexto violento na comunidade, motivos pelos quais era mais difícil chegar até certa idade”, disse Medina. “Hoje, acredito que vivemos um outro momento e é oportuno contar essas histórias e mostrar esses corpos. Mas também pensar em outra maneira de envelhecer além das ideias de que a vida acabou e que não é mais possível sonhar e amar.”

A caminhada para pautar o envelhecimento com a força que ele ganhou em 2025 foi longa e passou por uma série de trabalhos, como o do jornalista Yuri Alves Fernandes, criador do projeto LGBT+60: Corpos que Resistem, que começou na plataforma de jornalismo independente #Colabora, está na terceira temporada e já soma mais de 10 milhões de visualizações nas plataformas digitais.

“A pauta do envelhecimento tem que ser cada vez mais forte, porque é sobre o futuro, e o futuro é amanhã, logo ali. E não só sobre o nosso futuro, mas também sobre o presente daquelas pessoas que já estão na terceira idade e precisam, às vezes, de um olhar mais atento, uma rede de apoio”, conta ele, que deseja que seu trabalho transmita empatia.


Jornalista Yuri Alves Fernandes com Seu Franco, um dos personagens da série “LGBT+60: Corpos que Resistem” LGBT+60/Divulgação

“Eu gostaria era que a gente conseguisse olhar mais para nossos vieses preconceituosos e os trabalhasse de forma que não atingisse as pessoas da nossa própria comunidade. A gente já é tão marginalizado desde criança, então, que pelo menos com os nossos a gente pudesse ter essa empatia”, acrescenta Fernandes.

Desde que estreou, em 2018, a série já ganhou mais de dez prêmios nacionais e internacionais, sendo o último deles o Prêmio Criador de Notícias de Excelência em Jornalismo de Vídeo Independente, do International Center for Journalists (ICFJ), uma das mais importantes organizações internacionais de jornalistas.

“Me emociona muito quando eu vejo pessoas trans, principalmente, comentando que, pela primeira vez, viram um idoso trans, uma idosa trans, e que, agora, consegue se ver também na terceira idade. Então, essas histórias ensinam as pessoas a pensarem no futuro, a acreditarem que vão chegar lá, porque a gente vem de uma falta de representatividade na terceira idade muito grande.”

Encontro geracional

O gerontologista Diego Felix Miguel, presidente do Departamento de Gerontologia da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia em São Paulo e especialista em diversidade e longevidade, pondera que a importância do tema da Parada LGBT de São Paulo não está apenas em falar sobre pessoas idosas, mas em abordar o envelhecimento, um processo comum a todos que estão vivos.

“Precisamos pensar sobre como fortalecer esses vínculos intergeracionais dentro da própria comunidade, em criar espaços de valorização, de escuta e de protagonismo das pessoas idosas LGBT, para que elas possam, a partir das suas histórias, da sua fala, das suas vivências, passar esse bastão para as novas gerações. Para que a gente entenda que esse processo de resistência custou a vida de muitas outras pessoas que, infelizmente, não estão mais entre nós”, diz o gerontologista.

“É importantíssimo que a gente fique sempre em alerta sobre como estão sendo tratados os nossos direitos, por quem são tratadas as nossas demandas, e como que são feitas e realizadas essas escutas. Até sobre a execução de políticas públicas que de fato precisam existir para acolher a nossa própria comunidade e as nossas demandas. Não só das pessoas idosas, mas de todas as pessoas que estão envelhecendo.”

Coletividade contra a solidão

Muitas vezes afastados dos vínculos familiares e sem terem formado famílias tradicionais, os LGBTQIA+ têm a solidão e a falta de uma rede de suporte como alguns dos desafios ao envelhecer. Professor universitário aposentado e ativista fundador de algumas das principais organizações de luta coletiva pelos direitos dos homossexuais no país, Jorge Caê Rodrigues, de 70 anos, vê na coletividade um instrumento para um envelhecimento mais feliz.


O professor aposentado e ativista Jorge Caê Rodrigues destaca a importância da coletividade para o envelhecimento feliz - Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

“Recorrer à luta coletiva, recorrer aos grupos, e nos reunirmos é muito importante para que a gente possa viver o envelhecimento. A gente tem que pensar que a velhice é uma consequência positiva. A gente tem que pensar que, se eu envelheci, eu estou vivo. Existe uma imposição de uma juventude perpétua, e essa articulação de nos reunirmos e discutirmos, com pessoas que conseguiram chegar aos 60 anos, aos 70 anos, e discutir o pertencimento de estar velho, é uma forma de luta”, afirma ele, que ficou viúvo em 2019, após um relacionamento de 39 anos com o também ativista John Mccarthy.

Há cerca de dez meses, Jorge Caê Rodrigues começou a se encontrar com outros homens gays com mais de 50 anos no próprio Grupo Arco-Íris, que fundou com seu ex-marido e outros companheiros. Os encontros foram crescendo, e o grupo hoje faz jantares nas casas dos membros, em uma solução coletiva contra a solidão.

“De repente, me vejo com 60 anos, e aí, com a velhice chegando, você começa a ter outros tipos de preocupação. A saúde passa a ser algo muito importante. E a sociabilidade. A solidão para mim é uma questão muito forte. E é uma questão que durante muito tempo foi esquecida, foi abandonada”, conta Rodrigues.

Entre os temas presentes nos encontros, a sexualidade e a vida amorosa não ficam de fora. "Todos são unânimes em falar de seus desejos, de como o desejo se mantém, e os que são sozinhos, falam sobre a solidão. O desejo continua, mas como encontrar alguém? Muita gente acha que a partir dessa idade você perde o desejo. Mas não perde mesmo, e posso falar por mim. Continuo tendo desejo e admirando o corpo masculino", conta ele, que voltou a namorar e mantém um relacionamento há quatro anos. "Estou caminhando para os 71 e fico me espelhando no Ney Matogrosso que tem 80. Quero chegar lá como ele."

Ancestrais do futuro

Entre as letras da sigla LGBTQAI+, a T é a que vivencia de forma mais dramática os desafios de envelhecer. Há anos a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) denuncia que passar dos 35 anos já é uma marca que torna uma mulher ou homem trans um sobrevivente. Para a presidente da associação, Bruna Benevides, travestis e pessoas trans idosas são monumentos vivos da resistência em um país que as aniquila.

“Cada travesti ou mulher trans que alcança a velhice é uma rachadura no sistema de morte que tenta nos destruir. Elas são arquivos vivos de uma história que a sociedade insiste em apagar. Carregam nos corpos as marcas da luta, da marginalização, mas também da sabedoria, da construção coletiva e da reinvenção. São verdadeiras ancestrais do futuro, pois muitas delas participaram ativamente da construção de direitos e das referências que hoje temos.”


Bruna Benevides diz que travestis e pessoas trans idosas são monumentos vivos da resistência - Foto: Bruna Benevides/Arquivo pessoal

A Antra também faz parte das organizações que se engajaram em valorizar os pioneiros da comunidade LGBTQIA+ e iniciou neste ano o projeto Traviarcas, que investiga as condições de vida, saúde e envelhecimento das mulheres trans e travestis com mais de 45 anos. Os dados gerados vão possibilitar a construção do relatório Traviarcas: Diagnóstico sobre os Desafios para o Envelhecimento de Travestis e Mulheres Transexuais Brasileiras.

“Celebrá-las é romper com a lógica do descarte, é dar nome e rosto ao futuro que o Brasil tanto nos nega. Elas não devem apenas ser lembradas em eventos pontuais, mas incluídas na formulação de políticas, nas universidades, nas decisões sobre os rumos da nossa luta. A velhice trans não é o fim de um ciclo: é a consagração de uma existência teimosa e profundamente digna”, conclui Bruna Benevides.

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