Mundo • 20:31h • 01 de agosto de 2025
Menos selfie, mais escuta: protagonismo de terapeutas nas redes sociais levanta alerta ético
Psicólogos criticam exposição excessiva de profissionais que buscam visibilidade pessoal e ofuscam o foco do processo terapêutico: o sofrimento do paciente
Jornalista: Luis Potenza MTb 37.357 | Com informações da Lara Assessoria | Foto: Arquivo/Âncora1

O crescente uso das redes sociais por terapeutas tem despertado preocupações dentro da própria comunidade da psicologia. A exposição excessiva de profissionais em conteúdos autopromocionais, muitas vezes com foco em si mesmos e não na prática clínica, está sendo criticada por desviar o sentido central da psicoterapia: acolher e escutar o sofrimento do paciente.
Segundo uma pesquisa realizada em 2024 pela Associação Brasileira de Psicologia (ABP), 67% dos psicólogos acreditam que há exagero na forma como colegas utilizam as redes para autopromoção. Mais da metade dos entrevistados já se sentiram desconfortáveis com publicações que expuseram ambientes terapêuticos ou abordaram a dor psíquica de forma simplificada e pública.
Danilo Suassuna, psicólogo e diretor do Instituto Suassuna, ressalta que a busca por curtidas e visibilidade pessoal pode comprometer não apenas a ética, mas também a eficácia do atendimento clínico. “A terapia não é sobre o terapeuta. Quando ele se coloca como protagonista, transforma o espaço de escuta em palco, e não em acolhimento”, afirma.
O alerta vai além do comportamento individual. Instituições de ensino e especialização, como o próprio Instituto Suassuna, têm discutido com seriedade os limites do marketing terapêutico. “A dor do paciente não deve ser transformada em conteúdo. O desafio é divulgar ciência e promover saúde mental sem espetacularizar a fragilidade humana”, aponta Suassuna.
O Código de Ética Profissional do Psicólogo reforça que a atuação deve respeitar a dignidade e os limites técnicos e éticos da profissão. Isso inclui a conduta digital. Exageros, frases de efeito descontextualizadas, e exposição indevida de vivências clínicas ferem esse princípio.
Apesar das críticas, os especialistas reconhecem a importância da presença digital para democratizar o acesso à psicoterapia. Mas alertam: a prioridade deve ser sempre o cuidado real, a escuta atenta e a empatia e não o engajamento. “É possível e necessário falar sobre saúde mental com responsabilidade. Mas para isso, o terapeuta precisa sair de cena e devolver o protagonismo ao paciente”, finaliza Suassuna.
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