Saúde • 11:22h • 19 de dezembro de 2025
Dezembro Vermelho: pesquisas de cura do HIV avançam em universidade pública paulista
Enquanto resultados não chegam, o tratamento, prevenção e combate ao preconceito continuam sendo fundamentais para garantir a plena qualidade de vida das pessoas que convivem com o vírus
Jornalista: Carolina Javera MTb 37.921 com informações da Alesp | Foto: Arquivo Âncora1
Pesquisas conduzidas na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e publicadas no Journal of Infectious Diseases indicaram resultados promissores na busca pela cura do HIV. Coordenado pelo médico Ricardo Sobhie Diaz, o estudo obteve resultado totalmente negativo para o vírus em um dos voluntários acompanhados.
Segundo o pesquisador, os testes combinaram diferentes estratégias, como o aumento das doses de medicamentos antirretrovirais, intervenções para alterar o ciclo do vírus no organismo, reposição de células infectadas e o uso de vacinas terapêuticas. A proposta foi atacar o HIV por múltiplas frentes.
O HIV se aloja em células do sistema imunológico e pode permanecer latente por longos períodos. Quando o tratamento é seguido corretamente, os antirretrovirais eliminam o vírus quando ele se reativa, reduzindo a carga viral até níveis indetectáveis e impedindo a transmissão. Esse controle é conhecido como “cura funcional”, pois evita o desenvolvimento da aids, mas não elimina completamente o vírus do organismo.
De acordo com Sobhie, mesmo com o vírus controlado, fragmentos permanecem escondidos nas células, favorecendo inflamações e acelerando o envelhecimento do organismo. “A pessoa vive bem, mas o corpo continua em um ambiente inflamatório”, explica. Por isso, eliminar definitivamente o vírus sempre foi um grande desafio.
A partir dos resultados, o pesquisador afirma que o próximo passo é compreender por que apenas um voluntário apresentou cura completa. Ele destaca que os participantes submetidos à combinação de diferentes abordagens tiveram maior redução da carga viral, o que pode indicar caminhos mais eficazes para pesquisas futuras. “Agora sabemos melhor o que funciona e o que pode ser ajustado”, afirma.
Para pessoas que vivem com HIV há décadas, como Luís Otávio Baron, presidente da ONG Eternamente Sou, os avanços científicos são importantes, mas não substituem o valor do tratamento atual. Diagnosticado há 37 anos, ele relembra o início da epidemia, marcado por alta mortalidade e tratamentos agressivos. “Hoje, continuo focado em me manter indetectável e em viver com segurança e qualidade de vida”, afirma.
Cintia Nocentini, assistente social do Centro de Referência e Tratamento de Aids (CRT/Aids) de São Paulo, lembra que o tratamento evoluiu de regimes complexos e cheios de efeitos colaterais para medicamentos de dose única diária, eficazes e bem tolerados. Ainda assim, o preconceito segue como um obstáculo. Segundo ela, o estigma afasta pessoas do diagnóstico e do acompanhamento adequado. “Muitos interrompem o tratamento por medo e vergonha”, relata.
Eduardo Barbosa, vice-presidente do Grupo Pela Vida e diagnosticado em 1994, conta que a discriminação já levou pessoas a perderem o emprego apenas por viverem com HIV. Ativista desde então, ele defende que o maior desafio ainda é social. “O mais importante é a cura social do HIV”, resume, referindo-se ao combate ao estigma que impede uma vida plena.
Cintia reforça que ninguém é obrigado a revelar o diagnóstico além do círculo da saúde. “Quem se trata corretamente, mantém carga viral indetectável e não transmite o vírus. O tratamento também é uma forma de prevenção”, destaca.
Mesmo com boa qualidade de vida, pessoas que vivem há muito tempo com HIV convivem com comorbidades associadas à inflamação crônica, como hipertensão e alterações metabólicas. Eduardo Barbosa afirma que espera que a ciência avance até uma cura definitiva, capaz de eliminar também esses efeitos de longo prazo.
Ele lembra que a universalização do tratamento no Brasil só foi possível após mobilização social, que resultou na Lei nº 9.313/1996, garantindo acesso gratuito às melhores terapias pelo SUS. Ao longo dos anos, participou como voluntário de pesquisas clínicas que ajudaram a aprimorar medicamentos e esquemas terapêuticos.
Para Luís Baron, o autocuidado deve ser encarado de forma natural, incluindo o uso de PrEP e PEP, preservativos e testagens regulares. Ele aponta que o tabu em torno da sexualidade ainda dificulta a prevenção e o tratamento. “Falar de HIV é falar de sexualidade, e isso ainda é um tabu em 2025”, observa Cintia.
Luís defende que viver com HIV hoje não deveria ser associado a medo ou vergonha. “É parte da existência de muitas pessoas. Informação, cuidado e respeito fazem toda a diferença”, conclui.
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