Responsabilidade Social • 20:13h • 05 de agosto de 2025
Conectados, mas sozinhos: os dilemas da terceira idade nas redes sociais
Com mais de 66% dos idosos acessando a internet diariamente, avanço digital revela fragilidades emocionais, relações fugazes e a dificuldade de viver o tempo com profundidade
Jornalista: Luis Potenza MTb 37.357 | Com informações da Baronesa | Foto: Divulgação

A presença crescente de idosos no ambiente digital tem transformado hábitos, relações e rotinas. Segundo a PNAD Contínua TIC 2023, mais de 66% dos brasileiros com 60 anos ou mais acessam a internet todos os dias — um salto expressivo em relação aos 24,7% registrados em 2016. No entanto, esse avanço tecnológico também expõe um paradoxo: quanto mais conectados, mais vulneráveis emocionalmente muitos idosos se tornam.
Aplicativos como WhatsApp, Facebook, Instagram e YouTube oferecem canais de interação, mas nem sempre promovem vínculos genuínos. A psicanalista Camila Camaratta observa que a solidão do idoso, antes silenciosa, agora ecoa em notificações constantes. “A rede ocupa o espaço do outro, mas muitas vezes falta escuta e afeto genuínos. É conexão sem contato”, afirma.
O tempo médio de uso das redes entre idosos varia de duas a cinco horas diárias, especialmente entre mulheres e aposentados em áreas urbanas. A publicação de mensagens, vídeos e conteúdos é, muitas vezes, um pedido de presença. Quando ignorado ou respondido com atraso, esse gesto pode gerar frustração e sentimento de abandono. O tempo subjetivo, antes moldado por memórias e vínculos reais, cede espaço à urgência emocional da era digital.
Do ponto de vista psicanalítico, o envelhecer é um processo simbólico que exige elaboração, silêncio e sentido — condições frequentemente esvaziadas pelas redes, que operam na lógica da velocidade, da substituição e da performance. “A velhice é o momento da colheita dos vínculos afetivos. É quando o essencial supera o passageiro. Mas o ritmo digital pode roubar o tempo que o idoso precisa para refletir e sentir”, destaca Camaratta.
A exposição constante também carrega riscos: dependência de validação externa, comparações, sentimento de inadequação e aumento da vulnerabilidade a golpes e desinformação. Ainda assim, o afastamento completo do mundo digital também é problemático. Como lembra a psicanalista, “estar fora da rede é, muitas vezes, estar fora do mundo”.
Por isso, a alfabetização digital deve ir além do uso técnico. É preciso oferecer suporte emocional, respeitar os limites dessa fase da vida e acolher o direito à vulnerabilidade. “O maior gesto de maturidade pode ser justamente não performar. Apenas ser. E isso deveria bastar”, conclui Camaratta.
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