Ciência e Tecnologia • 19:19h • 30 de setembro de 2025
Cannabis entre o tabu e a ciência: entenda as diferenças entre uso recreativo e medicinal
Pesquisa avança, preconceitos ainda persistem e especialistas explicam como o óleo de CBD e o uso da flor in natura podem trazer benefícios a pacientes com dor crônica e câncer
Jornalista: Luis Potenza MTb 37.357 | Foto: Arquivo/Âncora1
O debate sobre a cannabis continua sendo um dos mais polêmicos no Brasil e no mundo. Embora a ciência já tenha comprovado uma série de benefícios do uso medicinal da planta, ainda existem barreiras legais, preconceitos sociais e falta de informação clara para a população. A discussão, que por muito tempo esteve restrita ao campo do uso recreativo, hoje ganha novas dimensões com a consolidação de pesquisas clínicas e o avanço da regulamentação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
CBD, THC e suas diferenças
A cannabis é composta por mais de 100 canabinoides, sendo o CBD (canabidiol) e o THC (tetra-hidrocanabinol) os mais conhecidos. O CBD não possui efeito psicoativo, ou seja, não altera a consciência e não causa euforia. Ele é amplamente utilizado em tratamentos para epilepsia, ansiedade, dores crônicas, inflamações, distúrbios do sono e até mesmo em terapias para autismo.
O THC, por sua vez, é o principal responsável pelos efeitos psicoativos associados ao uso recreativo da maconha. No entanto, no campo medicinal, também tem papel importante: atua como analgésico, relaxante muscular e estimulador de apetite, sendo indicado em casos de pacientes com câncer em tratamento quimioterápico e pessoas com doenças que provocam perda de peso severa.
Uso medicinal x uso recreativo
A grande diferença entre os dois está no objetivo. Enquanto o uso recreativo busca a alteração da consciência e do humor, o uso medicinal é pautado em protocolos clínicos, doses controladas e acompanhamento médico.
Hoje, no Brasil, o uso medicinal de derivados da cannabis é legalizado em situações específicas, mediante prescrição médica. Já o uso recreativo segue proibido pela legislação.
Óleo de CBD x inalação da flor
O formato de consumo também faz diferença. O óleo de CBD, disponível em extratos, é a forma mais comum de prescrição médica. Pode ser usado em gotas sublinguais, cápsulas ou até em cremes tópicos. Sua principal vantagem é a padronização da dose, o que garante segurança e previsibilidade ao tratamento.
Já a inalação da flor (fumada ou vaporizada) é mais controversa. Embora não seja autorizada pela Anvisa para uso medicinal no Brasil, em outros países é considerada uma alternativa válida, principalmente para pacientes com dores intensas e câncer. Isso porque a inalação proporciona efeito quase imediato, diferentemente do óleo, cujo resultado pode levar de 30 minutos a 2 horas.
A legalidade e o papel da Anvisa
No Brasil, a Anvisa permite a importação de produtos à base de cannabis para uso medicinal desde 2015. Em 2019, a agência aprovou normas para fabricação, importação e venda desses medicamentos em farmácias, sob prescrição. Hoje, existem dezenas de produtos regularizados disponíveis legalmente.
A produção nacional, entretanto, ainda é limitada. Embora já existam autorizações judiciais e associações que cultivam cannabis para fins medicinais, a legislação federal não permite o cultivo em larga escala. O tema está em discussão no Congresso Nacional e também em instâncias do Supremo Tribunal Federal (STF).
A plantação e os desafios do futuro
Enquanto países como Canadá, Israel e Uruguai já possuem indústrias robustas voltadas ao cultivo de cannabis medicinal, o Brasil ainda caminha em passos lentos. Especialistas afirmam que a regulamentação da plantação poderia baratear os custos dos tratamentos, que hoje podem ultrapassar milhares de reais mensais, inviabilizando o acesso para grande parte da população.
Quebrando tabus
O avanço da ciência tem mostrado que a cannabis não deve ser vista apenas sob o prisma do uso recreativo. Seu potencial medicinal é vasto e já está transformando a vida de milhares de pacientes no Brasil e no mundo. Ainda assim, o preconceito e a falta de informação continuam sendo barreiras significativas.
Trazer luz ao tema, discutir diferenças entre óleo e inalação, entre CBD e THC, e compreender a regulamentação vigente são passos essenciais para que a sociedade avance em um debate que mistura ciência, saúde pública e direitos humanos.
Aviso legal
Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução, integral ou parcial, do conteúdo textual e das imagens deste site. Para mais informações sobre licenciamento de conteúdo, entre em contato conosco.
Últimas Notícias
As mais lidas
Mundo
Todos os paulistanos são paulistas, mas nem todos os paulistas são paulistanos; entenda
Termos que definem identidade e pertencimento no Estado de São Paulo
Ciência e Tecnologia
Nova anomalia no 3I/ATLAS levanta hipótese inédita de mecanismo artificial no espaço