Saúde • 10:13h • 20 de agosto de 2025
Câncer de colo de útero: diagnóstico tardio aumenta custos e necessidade de tratamentos no SUS
Estudo com mais de 200 mil mulheres mostra que casos avançados exigem mais quimioterapia, internações e consultas, além de elevar o impacto econômico para a saúde pública
Jornalista: Carolina Javera MTb 37.921 com informações de Agência Brasil | Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil
Um estudo sobre câncer de colo de útero aponta que quanto mais tardio é o diagnóstico da doença, maiores são os custos para o Sistema Único de Saúde (SUS). Além de reduzir as chances de sobrevida, descobrir o câncer em estágios avançados exige mais internações, consultas médicas e procedimentos de alta complexidade.
A pesquisa foi conduzida pela MSD Brasil, farmacêutica global responsável pela vacina nonavalente contra o HPV disponível na rede privada. O imunizante é considerado a principal forma de prevenção do câncer de colo de útero. No SUS, a vacina quadrivalente também está disponível gratuitamente para adolescentes de 9 a 14 anos, protegendo contra os tipos do vírus mais associados ao câncer.
Foram analisadas informações de 206.861 mulheres maiores de 18 anos diagnosticadas entre janeiro de 2014 e dezembro de 2021, com base nos registros do DataSUS. Os resultados mostram que, em estágios iniciais da doença, 47,1% das pacientes precisaram de quimioterapia, com média de 0,05 internações e 0,54 visitas ambulatoriais por mês. Mas esse quadro se agrava conforme o avanço do câncer:
- No estágio 2, 77% das mulheres necessitaram de quimioterapia, com 0,07 internações e 0,63 consultas por mês.
- No estágio 3, o índice sobe para 82,5%, com 0,09 internações e 0,75 consultas mensais.
- Já no estágio 4, o mais grave, 85% das pacientes passaram por quimioterapia, com 0,11 internações e 0,96 visitas ambulatoriais por mês.
Segundo os pesquisadores, 60% dos diagnósticos no Brasil ocorrem em estágio avançado, o que aumenta não só os custos ao sistema de saúde, mas também o sofrimento das pacientes.
Outro ponto levantado é a desigualdade social: até 80% das mortes por câncer de colo de útero acontecem em países de baixa e média renda, como o Brasil. No país, o Instituto Nacional de Câncer (Inca) estima 17 mil novos casos por ano, concentrados principalmente em mulheres não brancas, com baixa escolaridade e dependentes do SUS.
Impactos da pandemia
O estudo também mostrou que a pandemia de Covid-19 agravou o cenário. A proporção de pacientes tratadas apenas com cirurgia caiu de 39,2% (2014 a 2019) para 25,8% em 2020. Houve ainda redução de cerca de 25% nos procedimentos de radioterapia em todos os estágios, enquanto a quimioterapia isolada aumentou em média 22,6%.
Os pesquisadores avaliam que o colapso hospitalar levou a atrasos e lacunas no tratamento, cujas consequências a longo prazo ainda estão sendo avaliadas.
Prevenção
O câncer de colo de útero está associado em 99% dos casos a infecções persistentes pelo HPV. Por isso, a prevenção depende da vacinação, do rastreamento por exames de rotina e do tratamento das lesões pré-cancerígenas.
Na rede pública, a vacina quadrivalente está disponível para meninos e meninas entre 9 e 14 anos, além de grupos específicos até os 45 anos — como pessoas vivendo com HIV, transplantados e pacientes em tratamento de câncer. Já na rede privada, a vacina nonavalente pode ser aplicada em pessoas de 9 a 45 anos.
“O ônus econômico e social do câncer de colo de útero no Brasil é significativo. Este estudo reitera o apelo urgente por políticas públicas para ampliar a imunização contra o HPV e os programas de rastreamento. Com o diagnóstico precoce, será possível reduzir a demanda por cuidados paliativos e otimizar o uso dos recursos do SUS”, conclui o levantamento.
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