Saúde • 11:49h • 09 de julho de 2025
Alerta para a sífilis: números sobem e expõem falhas no combate à doença
Especialistas apontam falhas na prevenção e reforçam importância do diagnóstico precoce e do uso de preservativos
Jornalista: Luis Potenza MTb 37.357 | Com informações da Assessoria | Foto: Divulgação

O Brasil enfrenta um cenário preocupante e silencioso: os casos de sífilis continuam crescendo, mesmo com o acesso gratuito a testes e tratamento pelo Sistema Único de Saúde (SUS). De acordo com o último boletim do Ministério da Saúde, divulgado em outubro de 2024, o país registrou mais de 1,5 milhão de casos de sífilis adquirida entre 2010 e junho de 2024, evidenciando limitações persistentes nas estratégias de controle da infecção.
Para a médica infectologista Dra. Michelle Zicker, do São Cristóvão Saúde, o aumento da sífilis está relacionado a fatores como a desinformação, o uso inconsistente de preservativos e o estigma que ainda cerca as Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST). “A falta de conscientização, especialmente entre os jovens, dificulta o diagnóstico precoce e o tratamento adequado”, destaca.
A doença, causada pela bactéria Treponema pallidum, apresenta fases distintas. Na primária, surge uma ferida indolor (cancro duro) que desaparece sozinha, o que leva muitos a ignorarem o risco. Na secundária, aparecem manchas na pele e sintomas gerais como febre. As fases latente e terciária podem permanecer silenciosas por anos, mas causar complicações neurológicas e cardiovasculares graves.
“É possível estar infectado e não saber. A sífilis pode permanecer por anos no organismo sem sinais evidentes, o que torna os testes regulares fundamentais”, alerta a médica. Apesar da oferta de testagem rápida nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs), o Brasil enfrenta desafios no diagnóstico e no tratamento, especialmente entre gestantes. Entre 2005 e junho de 2024, foram notificados mais de 713 mil casos de sífilis em gestantes, com taxa de detecção nacional de 34 casos por mil nascidos vivos em 2023.
O cenário é ainda mais grave no caso da sífilis congênita, com 344.978 casos registrados em bebês com menos de um ano entre 1999 e junho de 2024. A taxa de incidência foi de 9,9 por mil nascidos vivos em 2023. “Ainda há falhas no acompanhamento pré-natal, na detecção precoce da doença nas gestantes e na adesão ao tratamento por parte das mulheres e de seus parceiros”, explica Zicker.
A infectologista reforça que o uso regular da camisinha masculina ou feminina continua sendo a principal forma de prevenção. Além disso, ela defende o fortalecimento das campanhas de educação sexual, a ampliação do acesso à testagem rápida e o tratamento das parcerias para evitar reinfecções.
A eliminação da sífilis congênita, meta prioritária da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), exige uma abordagem integrada e eficaz. “Não basta ofertar o exame. É preciso garantir que ele seja feito, interpretado e que o tratamento e acompanhamento sejam seguidos corretamente até o fim”, enfatiza Zicker.
Enquanto isso, a doença continua avançando silenciosamente no país, cobrando um preço alto pela negligência e pela falta de prioridade em estratégias preventivas consistentes.
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