Mundo • 10:18h • 22 de dezembro de 2025
Acesso à internet na primeira infância mais do que dobrou desde 2015
Crianças de famílias de baixa renda são as mais expostas
Jornalista: Carolina Javera MTb 37.921 com informações de Agência Brasil | Foto: Arquivo Âncora1
O acesso à internet na primeira infância mais que dobrou no Brasil em menos de dez anos, passando de 11% em 2015 para 23% em 2024. O avanço inclui quase metade dos bebês de até 2 anos (44%) e 71% das crianças entre 3 e 5 anos.
Os dados constam do estudo Proteção à primeira infância entre telas e mídias digitais, publicado pelo Núcleo Ciência Pela Infância (NCPI) e divulgado na terça-feira (17). A publicação reforça que a Sociedade Brasileira de Pediatria não recomenda o uso de telas para crianças menores de 2 anos e orienta que, entre 2 e 5 anos, o tempo de exposição seja limitado a até uma hora por dia, sempre com supervisão de um adulto.
A pesquisa evidencia o peso das desigualdades sociais nesse cenário. Segundo o levantamento, 69% das crianças de famílias de baixa renda estão expostas a tempo excessivo de tela. Quanto menor a renda, maiores as chances de que os dispositivos substituam o convívio, o brincar e a interação, considerados fundamentais para o desenvolvimento infantil.
Para a professora Maria Beatriz Linhares, da Universidade de São Paulo (USP) de Ribeirão Preto, uma das coordenadoras do estudo, o uso excessivo de telas na primeira infância, especialmente entre crianças de famílias mais vulneráveis, reflete um contexto de sobrecarga e falta de apoio às famílias. Ela destaca que a ausência de interação humana, brincadeiras e presença compromete o desenvolvimento da linguagem, dos vínculos afetivos, da regulação emocional e das habilidades sociais.
Os achados dialogam com a pesquisa Panorama da Primeira Infância: O que o Brasil sabe, vive e pensa sobre os primeiros seis anos de vida, da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, que ouviu 822 cuidadores de crianças de 0 a 6 anos e mostrou que 78% das crianças de 0 a 3 anos são expostas às telas diariamente, mesmo com o reconhecimento, por parte dos responsáveis, da importância de impor limites.
O material divulgado pelo NCPI aponta ainda que o uso intenso de mídias digitais está associado a alterações na anatomia do cérebro, com possíveis prejuízos ao processamento visual e a funções cognitivas como atenção voluntária, reconhecimento de letras e cognição social. A professora Maria Thereza Souza, da USP, explica que a qualidade do conteúdo e o uso passivo e excessivo das telas afetam áreas cerebrais ligadas à linguagem, à regulação emocional e ao controle de impulsos.
Ela alerta que a exposição a conteúdos inadequados pode gerar prejuízos ao desenvolvimento e que até mesmo desenhos animados estão associados a problemas de atenção em crianças de 3 a 6 anos. Conteúdos violentos, por sua vez, podem reduzir a atividade de estruturas cerebrais responsáveis pela regulação do comportamento hostil e aumentar a ativação de áreas ligadas a planos agressivos, além de estarem associados a maior risco de ansiedade, depressão, pesadelos e dessensibilização à violência.
Diante desse quadro, o NCPI defende a adoção de políticas públicas intersetoriais que integrem saúde, educação, assistência social e proteção de direitos. Entre as recomendações estão campanhas de conscientização sobre o uso responsável das tecnologias, formação qualificada de profissionais, fiscalização da classificação indicativa, proteção contra conteúdos inadequados e publicidade abusiva, além do fortalecimento de redes de apoio às famílias e da garantia de espaços públicos para o brincar.
O estudo também reforça o papel central de pais e cuidadores na mediação ativa do uso de dispositivos digitais, com práticas como estabelecer limites de tempo conforme a idade, evitar telas antes de dormir ou durante as refeições, priorizar brincadeiras e interação presencial, acompanhar o conteúdo consumido, manter zonas livres de tela em casa e dar o exemplo de uso consciente da tecnologia.
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